Realmente, é uma ocasião que se quer solene, e que carece de um enquadramento especial, de forma a não desvirtuar toda a envolvente da situação - por outras palavras, umas patacoadas soltas num mundo virtual, o equivalente a uma ramela de pulgão a cair de chapão num mar revolto :)
Para quem aqui veio parar por acidente, inocentemente a "googlar" "Gato Fedorento", vídeos engraçados com gatinhos - vocês sabem quem são, seus pervertidos... - ou até donos preocupados de felinos da raça esfinge à beira de uma pneumonia, lamento informar que, até ver, só existe um domínio registado em toda a net com este nome - o meu.
Apesar do trocadilho fácil com os "notáveis títeres nacionais" (palavras dos Gatos, não minhas...), facto é que este título se deve mais uma cópula inusitada entre o meu sentido de humor cáustico - e ácido ao mesmo tempo-, e o meu termostato avariado de há longos anos, que me faz desprezar o calor mais gritantemente intenso mas, paradoxalmente, espirrar convulsivamente assim que uma janela é aberta do outro lado do mundo - resumindo, não é plágio nem apropriação ilegítima com fins publicitários - só uma graçola :)
Para todos os que não me conhecem - ou seja, todos os que não vieram aqui parar por convite - o meu blog anterior chamava-se "S. Jorge da Murganhanha" e, recentemente, viu as suas portas "fecharem" quando a Microsoft, do alto da sua cabecinha multi-bilionária, resolveu entregar a gestão do seu Windows Live Spaces a um renomado site de blogs, a Wordpress - resultado, apesar das boas intenções, as minhas formatações nervosas e os esquemas de cores daltónicos foram atropelados como um ouriço numa concentração de camiões-tir - anos de escrita incoerente e de difícil leitura viram-se transformados numa apresentação estéril, ainda que altamente funcional e de inegável bom gosto estético - obrigado, Microsoft, mas eu gostava de como estava antes...
Assim, como todo o ser humano com muito bom fundo, e que só se move por motivos altruístas, tratei de me vingar - numa viela escura, à luz de faróis de carros de alta cilindrada, rodeado por indivíduos aparentados de neandertais cruzados com frigoríficos, fiz um pacto com a outra senhora da net, a Google - assinei um acordo, (a sangue, como convém nestas coisas taumatúrgicas), pacto renovado anualmente por uma soma que não posso revelar sem perder a minha alma imortal, e registei este domínio!!!! Muahahahahaha! (isto era um riso maléfico e soou muitíssimo melhor na minha cabeça do que aqui, sorry...).
Voltando ao tema do blog, todos os meus posts anteriores estão disponíveis para consulta no acima mencionado link da Wordpress, pelo que resolvi aproveitar este novo começo para fazer algo completamente diferente - ruminar exaustivamente sobre nada em peculiar e ver se conseguia alienar futuros leitores antes mesmo de chegar ao tema do blog :)
Assim, se ainda está a ler, benvindo ao meu novo local de devaneio :)
O tema de hoje prende-se com a velocidade a que a vida nos empurra, inexoravelmente, na direcção nada apetecível do senhor da gadanha, por mais que gostemos da monda, da ceifa e de todos os afazeres da terra - afinal, por piores que as coisas estejam, acreditamos que haverá sempre tempo de dar a volta ao resultado, e isso leva-nos a procrastinar, muita vezes indefinidamente, tudo na nossa vida...
Mesmo os mais esforçados de nós, e refiro-me sobretudo a pessoas que não dispensam preciosos segundos a ler coisas parvas como estas, que procuram desesperadamente manter-se ocupados, organizando o seu dia como se fossem formigas a jacto ou abelhinhas sob o efeito de cafeína, mesmo esses descobrem que as 24 horas fornecidas todos os dias sabem a pouco, teimando em reservar um terço delas para o merecido repouso, e o restante dividido entre trabalho (oh palavra cruel...), refeições (sim que mesmo os preguiçosos têm fome de quando em vez...) e, finalmente, as extra curriculares, ou seja, tudo o que lhes dá gozo: desporto, saídas em grupo, amigos, namoradas, namorados, cinema, leitura, pintura, danças de salão, karaoke, videojogos...
O tempo é, de facto, pouco, quando teimamos em preenchê-lo como se de uma mala de viagem se tratasse - desde que não se exceda o limite de peso, a tentação de muito boa gente - e de alguma muito má, mas isso agora não vem ao caso - é de utilizar cada compartimento da dita mala até ao último centimetrozinho, como se um pouco de ar significasse vida desperdiçada.
Quando nos apercebemos que de facto estivemos a viver demasiado depressa na ânsia de experienciar tudo o que a vida tinha, teoricamente, para nos oferecer, pode ter sido já inevitavelmente tarde para meter travões a fundo - restando apenas o consolo de que alguns bons momentos existiram, documentados por fotos divertidas - ou nem tanto -, ímanes de frigorífico adquiridos em locais remotos, autocolantes nas malas gastas de tantos tapetes de aeroporto, um conjunto vário de mazelas e luxações ganho em disputas de objectos pueris - como bolas de variados tamanhos - e uma agenda repleta de nomes de companhias de que já nem a foto anexa nos ajuda a recordar...
Da mesma forma que é fácil cair no exagero da sobre-ocupação dos tempos livres, não é menos tentador o chamamento do ócio, o "dolce fare niente", um hedonismo virado apenas para o relax :)
Pela minha parte, ninguém me acusará, quando a hora final chegar, de ter sido um inconsciente num carrinho de esferas, rolando por uma ladeira íngreme, quase vertical, tentando ultrapassar a velocidade do som... Nem mesmo um kart com travões de disco e a arrastar um sofá... Aliás, nem sequer a andar pausadamente pela dita descida abrupta... Eu terei sido o tipo que viu todos os outros a viver a sua vida a 300 batimentos por minuto enquanto eu procurava a minha pulsação para confirmar se ainda vivia...
Admitidamente, poderia fazer mais com as minhas horas, mas o conforto puxa por mim como uma traça à luz, com todas as coisas boas e más que isso implica; desde pequeno que passo horas infindas a ler, a ver televisão - admitidamente quase não vejo hoje -, a jogar no meu velhinho Timex 2048, depois no Commodore Amiga 500, avançando finalmente para o PC - o meu primeiro "maquinão", um fantástico 486 SLC-2 50, da Cyrix, comprado na Makro :) - até ao bicharoco de silício em que hoje escrevo estas letras, sem esquecer a PS3 e a XBOX 360 que ganham pó na sala...
Resumindo e concluindo, passo horas em mundos virtuais, para mim mais aliciantes que qualquer coisas que o mundo real me possa oferecer - tirando, naturalmente os relacionamento interpessoais, claro está... :) - e não me posso queixar dos resultados - já conquistei galáxias inteiras, destronei reis e déspotas, fiz cair governos na ponta de uma espada, fui herói e vilão de incontáveis sagas, salvei donzelas e aniquilei milhões, já fui surpreendido por momentos dramáticos, já me emocionei com pequenas coisas, já vivi mil vidas e revivi-as mil vezes, tomando decisões diferentes, voltando atrás e experimentando outros caminhos, já me ri sozinho e já dei comigo de lágrimas nos olhos quando um desfecho esperado me apanhava desprevenido...
Por mais rios de tinta que façam correr, os videojogos são uma forma de entretenimento tão legítima quanto qualquer outra, com a vantagem da interactividade, e nunca serão responsáveis, por si só, pela violência, a delinquência juvenil, homicídios rituais e assassinatos em massa - parafraseando uma expressão coloquial, a gota de água que faz transbordar o copo não carrega com ela toda a água que já o tinha enchido.
As pessoas são, em primeira e última análise, responsáveis pelos seus actos, e pelos de mais ninguém - um dos grandes problemas da nossa sociedade, que se diz moderna e civilizada, é a facilidade com sacode a água do capote, enjeitando culpas e apontando dedos fáceis, de forma a evitar confissões de culpa. Quantas vezes ouvimos notícias bombásticas associando os jogos de vídeo a acções violentas? Alguns estudos mostraram, inclusivamente, que em determinadas idades - entre os 6 e os 12 anos - o grau de agressividade, após jogar mais de 1 hora seguida, um qualquer jogo violento, aumenta enormemente - mas é exactamente nessas idades que a presença dos pais se faz mais necessária, que o dirimir de responsabilidades numa consola se torna um erro crasso, como a geração anterior tinha feito com a televisão...
As tais pessoas que preenchem os seu dias com a intensidade de cão de caça atrás da pobre raposa, deixam de ter tempo para essas e outras pequenas coisas: acompanhar os filhos, saber o que fazem nos tempos livres, o que jogam, se jogam coisas adequadas à sua idade, se precisam de ajuda para compreender o que jogam... É de facto muito mais fácil comprar-lhes o jogo pedido e deixá-los à sua sorte - afinal de contas, se isso despoletar nele um episódio de epilepsia fotossensível ou o encorajar a matar um colega de escola, naturalmente que os pais não o podiam antecipar, não terão tido qualquer responsabilidade e o bode expiatório será sempre o alvo mais sedutor...
Não há-de ser a primeira nem a última vez que interpelo pais na FNAC ou na Worten prestes a comprar um qualquer Grand Theft Auto ou Manhunt para o seu filho - "Reparou na idade recomendada?", pergunto muitas vezes...
A resposta geralmente é "Nem sabia que tinha, o miúdo só fala nisto há que tempos, os amigos todos já têm...", sem falar nos que me respondem, e com alguma propriedade "Meta-se na sua vida!".
Só me lembro de uma vez um pai ter voltado a por o jogo na prateleira e ter levado o filho ao corredor dos jogos para crianças... Mas isto é o meu optimismo a falar, se calhar voltou ao inicial assim que voltei costas - afinal de contas, é tão mais fácil calar uma criança com um "sim" que com um "não"...
Enfim, isto tudo dito pelo tipo que não quer ter filhos... Se calhar porque sei que ser pai é mais do que tê-los, é criá-los, acompanhá-los, apoiá-los e entendê-los - isso sim, era uma trabalheira, já bem me bastam os gatos... :)
Como já se faz tarde, e isto pede uma conclusão, aqui fica a dita: joguem mais, divirtam-se muito e lembrem-se que por vezes, só por vezes, excelentes horas da vossa vida podem ser passadas de rato e teclado em riste :)
Beijos e abraços. Fiquem bem ;p
É com enorme prazer que escrevo no teu blog. As palavras que eu possa escrever jamais poderão expressar o meu apreço por ti e pelo teu trabalho, tens a capacidade de nos prender com as tuas palavras, até ficarmos totalmente absortos nos teus próprios mas inteligentes desvaneios. A little advice...diciplina-te!!!Põe um pouco de lado essa preguiça que te é tão própria e que consome esse teu ser...Liberta-te!! Liberta-te do excesso de bagagem, organiza os compartimentos, deita fora as velhas bagagens que para mais nada servem do que ocupar espaço...e...escreve, sorri, vive!! Avida é demasiado curta e passa por nós a correr como uma maratona desenfreada...afinal a vida é feita de pequenos momentos que nos proporcionam alegrias sem fim. Persegue os teus sonhos e não deixes que o comodismo ocupe nenhum compartimento da tua vida!! Beijo Doce
ResponderEliminarMuitos Parabéns pelo nascimento do blog!
ResponderEliminarAgora sim a sério! Já não sou obrigado a ter que entrar na conta do hotmail para deixar alguns bitaites nos teus devaneios virtuais, que como sempre, primam pela sua enorme capacidade de síntese.
A qualidade essa mantém-se sempre cá em cima, mas num grafismo mais fresco e renovado. Esperemos que seja actualizado com mais regularidade, com mil e um assuntos interessantes, sempre muito bem escritos.
O assunto que trazes é sempre muito interessante para a vida das pessoas, pois um dia vão morrer, inexoravelmente. Mas deixa lá, digo-te em boa verdade, que depois nascemos outra vez. E isto vezes sem conta.
Quanto à associação que se faz dos jogos de computador violentos aos comportamentos desviantes das crianças/adolescentes, concordo com o teu ponto de vista, que é o meu. À ilharga de muita hipocrisia some-se a demissão dos paizinhos na educação dos filhinhos queridos.
Abraço.
Parabéns meu caro amigo pela tua cria virtual, esta definitivamente e somente tua.
ResponderEliminarRevi-me por completo no tema que escolheste para inaugurares o blogue, como eu te compreendo!!!
Recordei-me das longas horas a jogar BombJack no meu velhinho ZX Spectrum, completamente absorvido de toda a realidade ou, já no meu PC a minha insistência em me tornar o Mourinho (ainda ele não era Mourinho)no FM, e sem esquecer as directas que fiz agarrado à Playstation a jogar Final Fantasy.
Boas memórias.
Abraço.