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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Pitágoras era um malandreco!

Caros leitores, após mais uma ausência razoavelzinha, eis-me de regresso com um post sobre um tema que me é particularmente próximo do coração, o dos triângulos.

Não dos de Pitágoras (que era, assumidamente, um malandreco), nem das Bermudas, mas sim amorosos - todas e quaisquer situações em que aquilo que se quer não é aquilo se tem e, por vezes, aquilo que se tem também não é aquilo se quer.

Desde sempre que a espécie humana, voraz devoradora de anseios e desejos, tentações reprimidas e vontades sórdidas, caiu em situações lamentáveis, deixando o coração ao fumeiro e pondo-se a jeito para valentes desilusões, das quais vos deixo aqui 3 exemplos mais conhecidos:

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Menelaus - Helena - Paris

Apesar do que possa parecer, não é itinerário de um Intercidades, mas sim um dos mais famosos (e o primeiro) de todos os triângulos amorosos.
500 anos antes do carpinteiro da Galileia, uma mulher casada, Helena de Esparta, (boa, boa, todos os dias, reza a lenda...) por portas e travessas que agora não interessam nada, veio a embrulhar-se com um príncipe troiano chamado Paris (um bonzão meio amaricado, perito em falinhas mansas), que a rapta e leva para a sua cidade, convencido que o irmão, Hector (esse sim, um tipo porreiro, corajoso, bem casado e quê) o defenderia, na sua cidade inexpugnável, da ira dos gregos - que não tardou nadinha.
Menelaus (velhote, barbudo e barrigudo), o marido enganado, juntou todos os outros interessados na esposa numa armada de mil navios e toca de atacar Tróia, metendo pelo meio um cavalo crescidote do IKEA, um guerreiro com calcanhar de vidro e uma data de malta falecida sem necessidade nenhuma.
Ah, e no fim levaram a moça de volta, que o marido enganado nem a conseguiu matar, de tão gira que ela era - o raptor, esse, deu à sola, depois de ter estragado a sandália a Aquiles.

Contagem de mortos: perto de 180.000, números redondinhos.

Grau de Parvoeira (0-10): 7 (raptar a mulher de um tipo com tantos amigos é muito, muito estúpido mesmo - cair na cena do cavalo então...)

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Júlio César - Cleópatra - Marco Antonio  

Uma porrada de anos antes da TVI, (cerca de 50 anos antes de Cristo), um poderoso líder do mundo civilizado, Júlio César, é assassinado por uns quantos compinchas,que lhe mostram as suas facas Ginsu mos degraus do Senado.
Do outro lado do Mediterrâneo, Cleópatra, rainha dos egípcios (pré-Mubarak, portanto...) fica em choque por saber que o seu amor morrera.
No entanto, o melhor amigo deste, Marco António, (militar, boa pinta e oportunista qb) mete-se num ferry cheio de remadores suados e vai consolá-la - da maneira tradicional latina, segundo consta, mas lá se apaixonam...
Ele acaba por se meter numa sarilhada imensa, tem de andar à pancada com o seu antigo exército e no fim enganam o moço, dizendo-lhe que a sua amada patinou.
Ele, porque era um macho à séria, mata-se com um gládio nas intercostais (é d'homem, caraças!).
E ela, quando sabe da desgraça, vai atrás e pimba, deixa-se picar por uma serpente e quina também (isto também é de gaja, porque convenhamos que é tudo menos prático...).
Está aqui a origem do romance Romeu e Julieta, mas sem homens em collants nem declarações exageradamente rebuscadas.

Contagem de mortos: 130.000, mais coisa menos coisa  

Grau de Parvoeira (0-10): 9 (mas onde é que já se viu duas pessoas matarem-se por uma coisinha de nada???)

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Diana - CarlosCamilla


Entre os anos 80 e 90, (completamente trágico também, mas só se estragou uma casa...) surge o caso mais mediático de um triângulo amoroso envolvendo realeza.
Desde muito jovens que o príncipe Carlos (bonitão como o Eng. Sousa Veloso, dentes tortos, orelhas de abano e um caparro de menina) arrastou a asa à então menos homenzada Camilla (senil, enrugada, cara de ameixa e um gosto para chapéus como só a Júlia Pinheiro) - no entanto, por a moçinha entretanto ter encontrado outra pessoa, a vida do jovem infante continuou, tristonha, acabando por descobrir a sua Diana (giraça, cabelinho de Pin-y-Pon, vestidinhos da moda, tímida e coradinha), no final dos anos 80.
Mas como os primeiros amores nunca se esquecem, e apesar da princesa do povo ter o selo de aprovação da populaça, o Carlinhos teimava em ir martelar a paixão sempre que podia - coisa que acabou por descambar em escândalos mediáticos, alimentando a corrida à profissão (in)digna de paparazzo, e culminando na morte violenta da princesinha, (que estava prestes a divorciar-se para assumir uma relação com um tal de Dodi), numa brutal colisão entre a sua limusina e um pilar do Túnel d'Âme, em Paris, para fugir dos paparazzi.

Contagem de mortos: 4, sendo a Diana, o Dodi, o motorista e a reputação da Casa Real Britânica.  

Grau de Parvoeira (0-10): 6  (bem vistas as coisas, ele já a tinha enganado, e ela já andava a enganá-lo também, por isso fica tudo em casa e não se fala mais nisso...)

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Resumindo, e para voltar à realidade, já me vi em ambas as situações, apesar de continuar a achar bem mais ingrata a do vértice fraquinho, que tenta e tenta e retenta, mas nunca leva a brasa à sua sardinha - aliás, talvez por ter estado mais vezes do outro lado (o disputado e heróico garanhão lusitano) tenha aprendido a dar valor ao esforço inglório em que amiúde me encontrei (o pobre potro, anoréctico e manco).

Mas o que leva as pessoas a abdicarem de tal forma da auto-estima, a rebaixarem-se ao ponto de esperar migalhas e restos (que já dizia o anúncio do Pedigree-Pal, "não são uma alimentação adequada"...), a esperarem que (por piedade, atrito, acordar para a vida ou puro desgaste psicológico) a pessoa amada, finalmente, nos dê uma abébia?

Suspeito, (que nestas coisas nunca poderá haver certezas), que é porque o fruto proibido é o mais apetecido, e porque a sociedade nos ensinou que só aprendemos a valorizar as coisas se tivemos trabalho para as obter - eu discordo, vigorosa e resolutamente, pois nas coisas do amor não há nada mais doce do que gostarmos de quem gosta de nós, e vive-versa, sem espinhas, ossinhos ou quejandos... :)

Também imagino que se derivem alguns benefícios nas demandas por coisas impossíveis, inatingíveis ou simplesmente inalcancáveis - dizia Sir Edmund Hillary, após conquistar o Evereste, a propósito da sua motivação para o ter tentado escalar - "Porque estava ali." E faz todo o sentido - é a quintessência do desafio.

Um homem, ou uma mulher, supera as suas próprias limitações, suporta provações, assume gostos e preferências diferentes, sujeita-se a agressões ambientais, humanas e até físicas só para poder desfrutar de alguns minutos junto da pessoa amada, ainda que ela só tenha olhos para o outro vértice do triângulo - ao fazer isto engrandece-se, agiganta-se e enobrece-se, ainda que nem se aperceba.

Inglório? Talvez. Fútil? Possivelmente. Inerentemente humano? Sem dúvida.

Mas por vezes, ainda que raramente, é um labor que resulta num despertar da outra pessoa, num abrir de olhos suave mas persistente, seja porque descobriu no pretendente um valor desconhecido, seja porque se cansou de um vértice que não a valorizava ou a dava como adquirida - e não nos podemos esquecer que há pessoas, que admitindo-o ou não, gostam é de malta que as maltrate, que as faça passar as passas do Algarve, sendo ainda capazes de as defender, de as desculpar e de tentar entender as suas motivações egoístas com lentes rosáceas.

As mulheres vítimas de violência doméstica estão neste vértice (extremo) do triângulo, para sempre símbolo da fragilidade da condição humana de amar sem ser amada, ainda que nunca o admitindo publicamente - mas não são as únicas.

Um dia, num mundo perfeito, aquela pessoa especial vai olhar para nós e perceber o quanto a amamos, sem palavras, choradinhos, prendas tontas ou demonstrações inconsequentes de paixões transitórias - e, ao fazê-lo, vai preencher o nosso mundo com côr, sons e sentimentos que julgávamos só existirem nos livros de romances, ou nos poemas dos apaixonados.

Nesse dia eu gostava de ainda cá andar para dizer, de peito cheio. "Tinha razão, não é o trabalho que dignifica o Homem, é o amor..."

Beijinhos e abraços e um óptimo Dia dos Namorados :)