Amigos, romanos, compatriotas, obrigado por terem vindo... :)
O mundo continuou o seu curso inexorável, o movimento centrífugo do nosso planeta contrariou suavemente o centrípeto, houve milhares que nasceram, morreram e deixaram a sua marca na terra nestes dias de interregno da minha escrita, e tudo sem qualquer intervenção minha...
Quem imagina que tudo seria diferente à nossa passagem para o grande mistério, está profundamente enganado - tirando uma pequena minoria de indivíduos que produzem, de facto, um efeito mensurável na vida de muitos, é um facto inegável que o nosso pequeno riacho apenas se cruzará com alguns afluentes relevantes ao longo do seu curso, uma mão cheia deles lamentando o nosso fim, mas procurando entretanto o seu próprio destino, a sua conclusão para uma história que é sempre única e irrepetível.
Em suma, a nossa insubstituibilidade para o normal curso da vida é um lirismo...
Todos os dias, para manter a nossa pequena psique em cheque com a loucura do mundo que nos envolve, dizemos pequenos mantras, sussurrados amiúde por entre os nossos axónios, subtis lembretes que nos permitirão, hora após hora, encarar a realidade dura das rotinas, das palavras vazias e das relações vacuosas com um sorriso, um comentário positivo ou um beijo apaixonado.
Desde o clássico "hoje vai ser um bom dia", até ao "tem calma, amanhã nada disto importará", passando pelo sempre actual "só interessa o que eu penso de mim" e sem esquecer o "mais vale só que mal acompanhado", muitas são as palavras de ordem que se imiscuem na nossa mente durante a vida, pequenos dominós conscienciais, brilhantemente encadeados para garantir um efeito final sólido e visualmente apelativo, os tijolos da nossa existência em sociedade, as máscaras da racionalidade politicamente correcta.
Fazêmo-lo porque não o fazer seria um suicídio social, porque os monstros existem e geralmente não usam máscaras, porque os nossos pares também o fazem, porque, como num mundo Orwelliano, os nossos próprios pensamentos são reféns permanentes dos dos outros, porque as nossas compulsões e anseios devem ser contrabalançados com paciência e ponderação, porque para cada Yin haverá, inexoravelmente, um Yang - mas acima de tudo, fazêmo-lo porque temos medo do que somos por detrás das palavras de conforto, do semblante composto e do sorriso fácil.
Quantas vezes o fazemos a nós próprios, aos nossos amigos, aos familiares, até aos perfeitos estranhos...? O conforto do positivismo, se assim o quisermos chamar, abordado em ene livros de auto-ajuda, incluindo no sobre-valorizado "O Segredo" (do qual vos estrago já o final - é "acreditem em vocês mesmos e tudo se comporá à vossa volta"), o efeito placebo das nossas convicções conscientes, é uma ferramenta poderosa do nosso bem estar, da nossa harmonia e da nossa própria saúde - acreditar que podemos superar um obstáculo é, inexplicavelmente, de enorme valor para conseguir, de facto ultrapassá-lo - mas o contrário é igualmente verdade, o que deixa os cépticos em dúvida...
Na realidade, as leis da atracção, que regem a maioria das correntes positivistas, baseando-se no princípio anti-físico que cargas de igual valor se atraem, são fruto dessas nossas racionalizações privadas, trazidas abruptamente ao ar livre e, antes de oxidarem em contacto com o oxigénio da verdade, cobertas por uma espessa camada de optimismo caramelizado e apetitosas amêndoas de fé.
Na verdade, meus amigos, todos tomámos o comprimido azul e convencemo-nos, à posteriori, que escolhemos o vermelho, a Rainha de Copas quer mesmo a nossa cabeça e se não tivermos juízo, a Polícia do Pensamento se encarregará de nos corrigir, ou encarcerar ad eternum para que não contaminemos os restantes membros do rebanho - e não, isto não quer dizer que eu subscreva integralmente o que escrevo, apenas que é simpático tomar consciência que a nossa sanidade é um singelo fio de algodão a atravessar uma floresta de lâminas... ;)
Mas nem tudo é mau - a espécie humana foi sempre rica em subterfúgios, esquemas e matreirices, mecanismos evolutivos avançados necessários para sobreviver num ambiente repleto de predadores, condições hostis e perigos vários - fossem eles uma selva plistocénica ou uma festa de debutantes. Foram estes sistemas, que fariam corar Darwin, que nos elevaram até ao topo da cadeia alimentar em poucos milhares de anos, que fizeram de nós os gafanhotos do mundo mamífero.
Sobreviventes engenhosos, vorazes, permanentemente insatisfeitos, migrando para onde há recursos valiosos, insensíveis a tudo o resto, imparáveis pelos seus números, destruidores pela sua natureza... E os gafanhotos também o são, mas em menor escala ;)
Se hoje eu me convencer que posso ser eu próprio, sem filtros sociais, constrangimentos morais ou dilemas éticos, que posso mostrar a todos o meu mais reptiliano lado, o meu âmago primal... Possivelmente seria abatido antes de chegar ao trabalho, vilipendiado à bruta ou talvez apenas internado compulsivamente - o que quer que a sociedade aceitasse melhor - mas se, por oposição, envergar a máscara do aceitável, o sorriso politicamente correcto e a linguagem verbal legalmente aplicável neste país, poderei ser louvado, apreciado pelos meus pares e inclusivamente acabar o dia com uma agradável companhia na cama, seduzida pelo meu charme de macho latino... :p
Convenhamos que a maioria de nós, dada a escolha, fará sempre a mesma - até porque a vida é demasiados curta para a vivermos sem qualidade. Se precisamos de uma máscara para ser felizes, torna-se repentinamente claro porque tantos políticos passam a vida a sorrir...
Vivam intensamente - mas não demasiado.
Mintam pouco - mas não ao ponto de se meterem em sarilhos.
Amem incondicionalmente - mas não se estiquem.
É esta a mensagem da sociedade humana - isto somos nós, sem tirar nem pôr, criaturas hedonistas, ociosas e, eminentemente, perfeitas ;)
Deixo-vos com um paradoxo para pensar, um quebra-mentes existencial - analisem a validade desta frase:
"Tudo o que eu digo é mentira."
Bons sonhos, meus amigos ;)
O mundo continuou o seu curso inexorável, o movimento centrífugo do nosso planeta contrariou suavemente o centrípeto, houve milhares que nasceram, morreram e deixaram a sua marca na terra nestes dias de interregno da minha escrita, e tudo sem qualquer intervenção minha...
Quem imagina que tudo seria diferente à nossa passagem para o grande mistério, está profundamente enganado - tirando uma pequena minoria de indivíduos que produzem, de facto, um efeito mensurável na vida de muitos, é um facto inegável que o nosso pequeno riacho apenas se cruzará com alguns afluentes relevantes ao longo do seu curso, uma mão cheia deles lamentando o nosso fim, mas procurando entretanto o seu próprio destino, a sua conclusão para uma história que é sempre única e irrepetível.
Em suma, a nossa insubstituibilidade para o normal curso da vida é um lirismo...
Todos os dias, para manter a nossa pequena psique em cheque com a loucura do mundo que nos envolve, dizemos pequenos mantras, sussurrados amiúde por entre os nossos axónios, subtis lembretes que nos permitirão, hora após hora, encarar a realidade dura das rotinas, das palavras vazias e das relações vacuosas com um sorriso, um comentário positivo ou um beijo apaixonado.
Desde o clássico "hoje vai ser um bom dia", até ao "tem calma, amanhã nada disto importará", passando pelo sempre actual "só interessa o que eu penso de mim" e sem esquecer o "mais vale só que mal acompanhado", muitas são as palavras de ordem que se imiscuem na nossa mente durante a vida, pequenos dominós conscienciais, brilhantemente encadeados para garantir um efeito final sólido e visualmente apelativo, os tijolos da nossa existência em sociedade, as máscaras da racionalidade politicamente correcta.
Fazêmo-lo porque não o fazer seria um suicídio social, porque os monstros existem e geralmente não usam máscaras, porque os nossos pares também o fazem, porque, como num mundo Orwelliano, os nossos próprios pensamentos são reféns permanentes dos dos outros, porque as nossas compulsões e anseios devem ser contrabalançados com paciência e ponderação, porque para cada Yin haverá, inexoravelmente, um Yang - mas acima de tudo, fazêmo-lo porque temos medo do que somos por detrás das palavras de conforto, do semblante composto e do sorriso fácil.
Quantas vezes o fazemos a nós próprios, aos nossos amigos, aos familiares, até aos perfeitos estranhos...? O conforto do positivismo, se assim o quisermos chamar, abordado em ene livros de auto-ajuda, incluindo no sobre-valorizado "O Segredo" (do qual vos estrago já o final - é "acreditem em vocês mesmos e tudo se comporá à vossa volta"), o efeito placebo das nossas convicções conscientes, é uma ferramenta poderosa do nosso bem estar, da nossa harmonia e da nossa própria saúde - acreditar que podemos superar um obstáculo é, inexplicavelmente, de enorme valor para conseguir, de facto ultrapassá-lo - mas o contrário é igualmente verdade, o que deixa os cépticos em dúvida...
Na realidade, as leis da atracção, que regem a maioria das correntes positivistas, baseando-se no princípio anti-físico que cargas de igual valor se atraem, são fruto dessas nossas racionalizações privadas, trazidas abruptamente ao ar livre e, antes de oxidarem em contacto com o oxigénio da verdade, cobertas por uma espessa camada de optimismo caramelizado e apetitosas amêndoas de fé.
Na verdade, meus amigos, todos tomámos o comprimido azul e convencemo-nos, à posteriori, que escolhemos o vermelho, a Rainha de Copas quer mesmo a nossa cabeça e se não tivermos juízo, a Polícia do Pensamento se encarregará de nos corrigir, ou encarcerar ad eternum para que não contaminemos os restantes membros do rebanho - e não, isto não quer dizer que eu subscreva integralmente o que escrevo, apenas que é simpático tomar consciência que a nossa sanidade é um singelo fio de algodão a atravessar uma floresta de lâminas... ;)
Mas nem tudo é mau - a espécie humana foi sempre rica em subterfúgios, esquemas e matreirices, mecanismos evolutivos avançados necessários para sobreviver num ambiente repleto de predadores, condições hostis e perigos vários - fossem eles uma selva plistocénica ou uma festa de debutantes. Foram estes sistemas, que fariam corar Darwin, que nos elevaram até ao topo da cadeia alimentar em poucos milhares de anos, que fizeram de nós os gafanhotos do mundo mamífero.
Sobreviventes engenhosos, vorazes, permanentemente insatisfeitos, migrando para onde há recursos valiosos, insensíveis a tudo o resto, imparáveis pelos seus números, destruidores pela sua natureza... E os gafanhotos também o são, mas em menor escala ;)
Se hoje eu me convencer que posso ser eu próprio, sem filtros sociais, constrangimentos morais ou dilemas éticos, que posso mostrar a todos o meu mais reptiliano lado, o meu âmago primal... Possivelmente seria abatido antes de chegar ao trabalho, vilipendiado à bruta ou talvez apenas internado compulsivamente - o que quer que a sociedade aceitasse melhor - mas se, por oposição, envergar a máscara do aceitável, o sorriso politicamente correcto e a linguagem verbal legalmente aplicável neste país, poderei ser louvado, apreciado pelos meus pares e inclusivamente acabar o dia com uma agradável companhia na cama, seduzida pelo meu charme de macho latino... :p
Convenhamos que a maioria de nós, dada a escolha, fará sempre a mesma - até porque a vida é demasiados curta para a vivermos sem qualidade. Se precisamos de uma máscara para ser felizes, torna-se repentinamente claro porque tantos políticos passam a vida a sorrir...
Vivam intensamente - mas não demasiado.
Mintam pouco - mas não ao ponto de se meterem em sarilhos.
Amem incondicionalmente - mas não se estiquem.
É esta a mensagem da sociedade humana - isto somos nós, sem tirar nem pôr, criaturas hedonistas, ociosas e, eminentemente, perfeitas ;)
Deixo-vos com um paradoxo para pensar, um quebra-mentes existencial - analisem a validade desta frase:
"Tudo o que eu digo é mentira."
Bons sonhos, meus amigos ;)
Muito bom o post, mesmo muito bom.
ResponderEliminarQuem te conhece "bem" consegue tele-transportar o eterno "desejo da morte". Ui ai!
"Se hoje eu me convencer que posso ser eu próprio, sem filtros sociais, constrangimentos morais ou dilemas éticos, que posso mostrar a todos o meu mais reptiliano lado, o meu âmago primal... Possivelmente seria abatido antes de chegar ao trabalho..." Isto depende da força aliada à inteligência, nesta última consubstanciada, pelo equipamento de fogo que cada um possa possuir em determinado momento.
É uma questão de superioridade de momento.
A questão do "vilipidiamento" pode ser algo subjectivo, na correcta proporcionalidade, de quem está não tem nada a perder. Estas linhas, estas fronteiras, são de uma extrema perigosidade para quem possa ser vítima.
É pura sorte, em boa verdade!
Voltando atrás e pegando no título, não mais é, do que as pessoas não serem capazes de assumirem o0 que lhes vem da alma, aquela que Pedro Abrunhosa cantava da "ialma".
No fundo, as pessoas são contrarias ao seu ser, esmagadas pelos "pensamentos dominantes" adoptam, cada uma à sua maneira, um certo politicamente correcto de ser e estar. Sem saberem na sua "linda" ignorância", que apenas seguem, linhas e orientações de cúpulas que os manipulam, balizando dois, três, quatro ou cinco formas de comportamento geral.
Pelo menos e com os boletins de "vacinas" em dia, vamos conseguindo "pensar" e escrever o que nos vai na "ialma".
Essencialmente, uma mentira repetida várias vezes, pode-se tornar verdade nas mentes mais desprotegidas. Aos que já têm anti-vírus mentais cabe apenas constatar, a enorme mentira em que vivemos, crendo que seja a verdade.
Abraço.
Pois é caro Tito, um comentário é necessário devido não só á complexidade do assunto mas também porque sem dúvida todos nós nos revemos num ou noutro ponto que focas.
ResponderEliminar"As mentiras que nos alimentam e as verdades que nos assustam"...estranhamente começo pelo título porque parece-me pertinente mostrar a sua ambiguidade. As verdades nunca nos devem assustar mas antes servir de sinais de trânsito orientadores do caminho a seguir e da atitude a adoptar. Não vivemos sozinhos e tudo isso tem as suas condicionantes e adjuvantes. Mas, ainda assim...quem não utilizou já a expressão: " Mente que eu gosto"?
Cada um criou os seus anticorpos necessários para continuar mentalmente são...anticorpos que por vezes falham mas que nem por isso nos fazem ter medo das "doenças" que povoam a nossa vidinha.
Não sou apologista dos "what if" que por vezes arrastamos. Há que pô-los todos á prova...acabar com qualquer réstia de dúvida...aprendi á minha custa que se deve perguntar....cutucar....lutar...tirar a prova dos nove...ir fundo na questão....
Temos que ser nós próprios, sim senhor, sem mentiras piedosas ou verdades propositadamente maldosas mas acima de tudo nunca esquecendo que não estamos sós...e sem o objectivo de acabar a noite com uma companhia agradável mas sim com o objectivo de não afastar quem está á nossa volta.
"Tudo o que eu digo é mentira"...talvez porque por vezes dizemos certas verdades que esperávamos fossem mentiras....assim, porque não faze-lo no final de um post com uma frase dúbia...cheia de segundos sentidos e carregada de subjectividade....uma verdadeira "vira-casacas" que toma o sentido que cada qual lhe quiser dar ;)
Não é aconselhável...mas fizeste-me pensar...e olha...não é gostei ;D
Kisssss and keep it coming...
gostava de ter um vocabulário complexo para poder fazer um comentário, mas como tudo na vida a simplicidade, é um bem precioso, como muitos outros,está muito bom .... para ti amor de verdade isento de mentira. Beijocas
ResponderEliminarum anónimo pode ter vários nomes o meu é simplesmente Gisela
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