Boa noite, amigos, e desde já as minhas desculpas por esta ausência mais prolongada que o costume, mas não me foi de todo possível arranjar material para os 2 posts que pensava escrever e, entretanto, surgiu de para-quedas este tema que me é particularmente próximo - a morte súbita, ainda que não inesperada, de Steve Paul Jobs, 56 anos, vítima de um cancro pancreático que combatia há 8 anos.
Sem me alongar muito, Steve era um homem que dispensava apresentações - um visionário como haverá poucos, criador e impulsionador de "ene" dispositivos e conceitos que ou despoletaram, ou solidificaram paradigmas tecnológicos, foi ele o cérebro por detrás da reviravolta da Apple - donde era CEO desde 96, tendo sido fundador em 79 mas de onde tinha saído em 85, por desavenças com o co-fundador Steve Wozniak - tendo, com a inestimável ajuda de Jonathan Ive, alcançado o invejável estatuto de "guru" do visionismo consumista tecnológico.
Da sua mente surgiu uma boa parte do Mac OS, o fantasticamente simples e pioneiro sistema operativo criado pela Apple, percursor do Windows, com um conjunto de inovações baseadas na acessibilidade e na intuição - algo que a rival Microsoft ainda procura desesperadamente (talvez seja com o Windows 8... :p)
Foi também sob a sua alçada que os Macintosh se tornaram peça de culto entre os fãs da tecnologia em massa, visualmente apelativos e ricos em escolhas eminentemente práticas - lembro aqui o fantástico iMac dos anos 90, muito inspirados nos NeXT, criados por Jobs no interregno do seu reinado Apple - repletos de cores vivas, num conceito all-in-one, abandonando a então ubíqua drive de diskettes e substituindo-a por uma pioneiríssima drive de CD!!! Uns anos mais tarde os iMac viriam a evoluir para os actuais desktop dream machines, com ecrãs LED até 27", processadores de última geração e discos solid-state, a máquina de eleição de designers gráficos e publicitários em todo o mundo :)
Mas até aqui chegarmos, o tio Steve deu ao mundo a morte do Walkman de cassete, acelerou a despedida do MiniDisc também da Sony, e anunciou alto e bom som a alvorada da era digital - a música já não tinha de ser pesada, rebobinada nem complicada - apesar de ter havido outras tentativas prévias, por fabricantes conceituados como a Creative Labs e mesmo a Phillips, nenhuma empresa chegou aos pés da facilidade de utilização e absoluta intuitividade do botão multidireccional do primeiro iPod, em 2001 - literalmente inventando a roda :D
Em 2004 voltou a desafiar preconceitos e a restabelecer paradigmas - disseram que a Nokia era impossível de vencer no jogo dos telemóveis, avisaram-no que a Sony e a Ericsson estava a ganhar quota de mercado e que gigantes como a Samsung e a HTC tinham entrado a "matar" - mas Jobs não quis saber. Conjuntamente com Ive, criou de raiz o que é, possivelmente, ainda hoje, o mais acessível e multi-facetado terminal móvel do mundo: rápido, táctil - algo de pioneiro na altura, infinitamente configurável com a melhor loja de aplicações do planeta - a AppStore, integrada com a pioneira plataforma multimédia iTunes, o centro de operações de tudo o que pudermos ter da Apple - estávamos em 2007 e tinha nascido o iPhone. Uma manobra aparentemente arriscada e destinada a falhar mas, em última análise, genial. Aliás, na sua iteração mais recente, lançada um dia antes da sua morte, o iPhone 4S veio trazer melhoramentos substanciais a nível de hardware, bem como uma nova versão do iOS, o sistema operativo exclusivo da Apple para dispositivos móveis. E como cereja no topo do bolo, o SIRI, o assistente pessoal que reconhece a nossa voz, em dicção natural, e satisfaz os nossos pedidos como fazer chamadas, enviar mensagens, encontrar algo no Google ou simplesmente navegar na internet - se já havia algo assim? Mais ou menos, mas nunca tinha funcionado, e agora funciona. É assim tão simples.
Em Janeiro de 2010, noutro golpe de génio, Steve revolucionou novamente o mercado da computação pessoal e de entretenimento - um "iPod Touch gigante", como muitos lhe chamaram, mas com capacidades acrescidas e um poder de processamento duplicado ao iPhone, caído de para-quedas num mercado que já tinha tentado lançar tablets por fabricantes reconhecidos, como a Acer, a Asus e a HP, sem nunca conseguir convencer os consumidores - quando o iPad foi anunciado, as pré-reservas superam na primeira semana meio milhão de unidades e a Apple voltava a re-inventar a roda. A receita? Dar aos consumidores algo de irresistível, criando uma necessidade que antes não existira - a da conectividade permanente com classe para dar e vender...
Ao longo dos anos, este homem foi admirado por milhões e temido por muitos, pelo seu feitio muitas vezes irrascível, capaz de ora acarinhar um funcionário genial como o destruir moralmente no dia seguinte - consta que terá despedido empregados no elevador, atirado objectos variados na direcção de colaboradores menos produtivos e evitado ir trabalhar dentro dos horários normais da Apple, de forma a não ter que ser interrompido por "cérebros menores".
Por contraponto, era-lhe também imputado um carinho especial por jovens carenciados, tendo criado bolsas de estudo em bairros problemáticos de cidades americanas, sabia recompensar regiamente as melhores ideias e era perfeitamente inspirador para várias gerações de pessoas em todo o mundo - a sua filosofia era de que nenhum sonho era inatingível, e que se acreditássemos de facto em algo, nenhuma força nos poderia impedir de o atingir.
Quem ouviu as suas palestras em campus académicos sabe do que falo - a sua mensagem era de um positivismo extremo, apelando para a urgência própria de alguém que sabe que a nossa janela de tempo é limitada e que não teremos para sempre as condições ideais de realizar os nossos sonhos - vindo de um lar destroçado, abandonado pelos pais biológicos e criado em lares de adopção, não chegou a concluir os estudos para perseguir outros interesses, numa odisseia de drogas, viagens ao oriente e más companhias - de alguma forma, este corrupio de experiências abriu-lhe a mente à forma de pensar que o tornou um empresário de sucesso.
Por mais críticas que lhe sejam apontadas, deixo aqui em tom de apontamento um resumo ligeiro dos "achievements" de Steve Jobs:
- iMac, iPod, iPhone, iPad - com vendas acumuladas de mais de 500 milhões de unidades em todo o mundo.
Para todos os que o endeusaram, exageradamente, restam as vozes dissonantes que lembrarão sempre que era humano como nós, capaz das maiores injustiças e das palavras mais brutais, ainda que único, na forma de ver um mundo que ele quis deixar mais ligado, mais simples e, em última análise, mais belo.
Não temos todos de gostar dele, mas retirar-lhe o mérito seria mais do que injusto, seria um acto de inveja e da mais elementar "dor de cotovelo" - antes de atirarem uma pedra a Jobs, experimentem construir um sonho do nada e vejam quão avante o conseguem levar - no fundo a maior esperança que todos carregamos dentro de nós, a de deixarmos uma marca no mundo de que nos possamos orgulhar, de termos mudado algo para melhor e de termos vencido as metas que estabelecemos para nós próprios, quando todos à nossa volta nos disseram "não vais conseguir".
Obrigado, Steve, por tudo o que ajudaste a criar - a tua dedicação e paixão são uma inspiração para todos nós. Não sei se estarás num iHeaven ou num iHell, mas terás certamente um valente iDidit contigo :D