Ao fim de longos quatro meses, eis-me de regresso, amigos, à prosa sem sentido e aos textos repletos de palavras exageradamente rebuscadas :)
O tema de hoje, sempre actual e ciclicamente abordado por milhares de sites da especialidade, o das Perseidas - sim, sim, já sei o que estão a pensar, mas o que sabe este cromo sobre cenas com nomes gregos a resvalar à bruta na casquinha de atmosfera da nossa bola azul?
Pois, olhem, vou ser absolutamente sincero, muito pouco mesmo, mas era isto ou falar sobre as medidas de austeridade que só o são para quem já não pode com um felino pela cauda, ou dos Jogos Olímpicos de Londres, de onde Portugal trouxe de volta (quase) apenas etiquetas nas malas a mostrar que lá esteve - qual deles o tema mais triste - possivelmente as etiquetas, que tiveram de voltar com os nossos atletas...
Assim sendo, googlei que nem um doido tudo o que encontrei (957.000 resultados num quarto de segundo - li o primeiro) sobre este fenómeno anualmente recorrente, entre 11 e 13 de Agosto, com o seu dia de glória a 12 - quem esteve disposto a um torcicolo com uma dose extra de falta de descanso nessa noite pôde - alegadamente, que nestas coisas nunca há certezas - ver até 100 - contem-nos bem, para cima de 10! - pedacinhos de lixo cósmico, a entrar na nossa atmosfera, por hora, a velocidades espantosamente elevadas (pra lá de muito depressa, mesmo), sobreviventes de calhaus estelares maiores que tiveram a infeliz ideia de andar à porrada com planetas e não estiveram para esperar pelo INEM.
Na sua maioria são pequenitos, entre o tamanho de uma unha de gel da Maya, e o do cérebro liofilizado do Miguel Relvas (escala de referência: passa do Natal, mas com equivalência de figo seco). Alguns, cerca de 5%, lá poderão ser maiores, mas nunca excedendo as dimensões do Orçamento de Estado da Etiópia num dia de muito calor.
A parte bonita desta entediante explicação com pretensões de humor é que, de uma forma geral, a maioria das pessoas que contemplou o fenómeno optou por interpretá-lo à sua maneira, o que geralmente oscilou entre o "Vou fazer um desejo antes que o risquinho desapareça!" (fadado ao insucesso, a não ser que o desejo seja "não ter tempo de fazer um desejo", que aquilo acaba em meio segundo) ou o "Sinto-me com sorte, vou jogar no Euromilhões!", o que resulta muito melhor se não estivessem estado a ver as estrelas enquanto conduziam uma moto sem olhar para a estrada - a sério, pessoal, se tiverem dúvidas, nas bikes as partes de borracha são para baixo...
O que nos traz, curiosamente, à temática quase mística (e praticamente inexplicável) de nos sentirmos singulares quando vemos algo que - julgamos - pouca gente vê. Sentir-nos-emos bafejados pelo destino? Se sim, é uma brisa fresca numa noite de Verão, ou o hálito de um idoso alcoolizado a perguntar as horas? Suponho que tudo dependa do que esperamos da vida, e da probabilidade desta ser afectada por pedritas que se transformam em nada a centenas de quilómetros acima das nossas cabeças.
Se forem daquele grupo que crê nas voltas predestinadas de cartas ambíguas e constelações que formam figurinhas altamente suspeitas, uma estrela cadente (coisa que não existe em nenhum ponto do universo, só para vossa informação - as estrelas não caem, ok? Se pudessem tropeçar - que também não podem, porque não têm pernas - não caíam na mesma, porque no vácuo até a Simara flutuava.)... Enfim, perdi-me, onde ia eu.. Ah, pois, uma estrela cadente, para essas pessoas, será o equivalente a uma pata de coelho (se fosse do coelho que estou a pensar, ainda acreditava que algum bem viesse daí...) com trevos de quatro folhas entre cada dedo, uma figa enrolada ao pelo e um olho gordo a servir de pega - resumidamente, uma coisa mesmo muito à frente - pelo que imagino que com 100 por hora, o resultado para o desgraçado que as visse só podia ser uma overdose de sorte com resultados catastróficos, estilo "Final Destination" cruzado com "Jackass" - contas feitas, é melhor só ver uma e fechar logo os olhinhos, para não exagerar...
Se, por sua vez, pertencerem àquela malta que acha giro e tal mas prefere antes ver um vídeo disso no YouTube, já resumido e com música ambiente, sem a seca da espera, das câimbras e da desilusão de só ter visto 5 em 3 horas - sendo duas delas um avião e uma cegonha, respectivamente - então todo este texto já vos adormeceu algures entre o título e o primeiro parágrafo - na vossa geração, cenas que não mexem rapidamente, fazem muito barulho ou, preferencialmente, ambas ao mesmo tempo, são só para velhotes e malta sem perfil de Facebook. Temos pena, mas há coisa que ainda vale a pena ver com os próprios olhos, como o penteado do Marante ou o Sol a pôr-se sobre o mar - em categorias diametralmente opostas, naturalmente.
Como não quero esgotar a vossa paciência, deixo aqui uma consideração, para acabar: quando o vosso tempo terminar neste plano, lembrem-se que as memórias reais de uma vida bem vivida são o que vos vai separar de todos os betos que passaram a vida a fazer "likes", partilhar fotos dos outros e vídeos de gatinhos, a cuscar as vidas alheias e a comentar sobre as escolhas de quem não lhes pediu a opinião.
Saiam de casa, vão ver o céu, sintam a chuva no rosto - enquanto escrevo está a chover -, sintam o cheiro da relva acabada de cortar, andem da mãos dadas com alguém de quem gostem, sentem-se numa esplanada com amigos e riam-se de coisas boas, e, diferentemente das "estrelas" deste texto, caiam muitas vezes, sem medos, mas levantem-se sempre a seguir - a experiência já valeu a pena.
Boa noite :)
Muito, muito bom! ��
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